O QUE PODEMOS EXTRAIR SOBRE O ABORTO A PARTIR DA METAFÍSICA DE ARISTÓTELES?

06/02/2014 16:07

Por: Alessandro Barreta Garcia

Colunista Catolics Nerds

Pode-se dizer que para Aristóteles, a metafísica é a parte principal da filosofia. Ela é uma ciência elevada, quer dizer, que está acima do físico. Ela também pode ser considerada como a filosofia primeira, pois, está acima das realidades físicas; psicológicas, entre outras ciências teoréticas (REALE e ANTISERI, 2003).

Com base no ato e potência descritos na metafísica, se deduz que estes só podem ser considerados segundo eles mesmos, e por meio de exemplos. Para Aristóteles, todo ser é em potência também um ato, pois, o ato só pode ser visto em relação à potência e não o contrário, assim, por meio do ato a semente (matéria) se torna árvore (forma) e não o contrário, a semente já é árvore em potência e não poderia ser outra coisa.

“A matéria é “potência”, isto é, “potencialidade”, no sentido de que é capacidade de assumir ou receber a forma: o bronze é potência da estátua porque é efetiva capacidade de receber e de assumir a forma da estátua; a madeira é potência dos vários objetos que se podem fazer com a madeira, porque é capacidade concreta de assumir as formas desses vários objetos. Já a forma se configura como “ato” ou “atuação” daquela capacidade” (REALE e ANTISERI, 2003, p. 200).

Tomado este raciocínio lógico e ontológico no sentido da vida, um feto é uma criança em potência, o feto é a potência em ato, devido a sua potencialidade da qual é potente (potente é ter a possibilidade de ter potência). Dessa potência, o ato é prioridade e superioridade sobre a potência. O ato é a forma; condição; norma e objetivo da potencialidade. Quando se mata um feto, mata-se a potencialidade, mata-se a norma e a prioridade dor vir a ser. A alma é ato para Aristóteles, vejamos um feto já possui alma, esta que designada por Aristóteles de enteléquia é a perfeição. Todo aborto é o impedimento da potencialidade se tornar ou de vir a ser. Entretanto, quando se fala em potência e ato, os dois já estão em andamento, pois, se não há potência, não há potencialidade, que é a capacidade de gerar potência devido o ser potente. Se não há potência há o ser potente, e se há potência também há ato.

Aristóteles na metafísica explica que: “(d) Uma coisa é potente se nem qualquer outra coisa nem ela mesma enquanto outra contém uma potência ou princípio que a aniquila...” (ARISTÓTELES, 2006, p. 149). Potência, portanto é vida, e aborto é o aniquilar desta. Qualquer outra saída só poderá advir da impotência, esta tanto quanto a potência é proveniente de Deus.

Insto posto, a coisa potente não é nem potência nem aniquilação. E o que vai determinar uma ou outra? Deus. A aniquilação é a impotência e só cabe a Deus. A potência e ato também, estes são contrários a impotência e só Deus pode alterar. Por fim, toda mulher que aborta torna a potência e ato, impotente, isto por meio da aniquilação. Esta que só cabe a Deus realizar ou não, conforme sua vontade.

Para não ficar nenhum equívoco. É bom lembrar que tudo isso que apresentei acima está relacionado com o devir ou movimento, que para os Eleáticos, é o não ser, ou mais especificamente o nada.

Contudo, conforme Reale e Antiseri (2003), o não ser que é impossível para a Escola dos Eleáticos (refiro-me a escola de Parmênides Eleia), é um não ser relativo em Aristóteles, porque se configura como um não ser efetivo, como potência e possibilidade de chegar a ato. Como vimos antes na metafísica, o ato é a prioridade da potência. O movimento é, portanto a passagem de um em outro, e assim sucessivamente. O não ser para Aristóteles é a potência, e a potencia não é o nada. Os dois são formas de ser, tanto a potência como o ato. Assim, um feto não é uma coisa ou o nada, o feto já é a criança em potência, o feto é uma prioridade de Deus.

 

REFERÊNCIAS

 

ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução de Edson Bini, Bauru, SP: Edipro, 2006

 

REALE, G, ANTISERI, D. História da filosofia: filosofia pagã antiga. São Paulo: Paulus, 2003.

 

Fonte: https://www.catolicsnerds.com/2014/02/o-que-podemos-extrair-sobre-o-aborto.html